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Foto do escritorDr. João Caldeira

Burnout compromete nossas relações

Somos sociais. Nossa condição humana envolve sermos seres biológicos e também sociais, afetivos. Nesta direção, Burnout não se limita a dificuldades de exercer atividade profissional, atua de forma ampla e com propriedades que comprometem diferentes segmentos de nossas vidas. Burnout compromete nossas relações sejam elas amorosas com os pares, familiares, afetivas entre amigos ou na nossa capacidade de desenvolver empatia, inclusive como exercemos nossa cidadania.

Diariamente, somos estimulados a cultivar uma crença de desconfiança, na qual não podemos demonstrar o que sentimos. Esta crença contribui negativamente para nosso cuidado e autoconhecimento uma vez que passamos a admitir que todas as pessoas são nossas concorrentes, este modo de ver as pessoas e as relações amplia nossa apreensão e nos mantem em alerta constante como se preocupações do mundo do trabalho fossem extensíveis à vida de forma geral.

Não podemos ser negligentes e diminuir ou naturalizar nossos comportamentos como se eles não tivessem consequências. A extrema individualidade pode nos impedir de compartilhar e de doar o melhor de nós; de acreditarmos que possam existir sentimentos genuínos e não apenas que existem motivos que fazem com que algumas pessoas hajam de uma maneira e não de outra.

Crenças/expectativas do tipo: “quando eu for bem-sucedido profissionalmente estarei mais descansado e conseguirei interessar-me por outras coisas menos desgastantes”; “quando eu puder comprar a casa dos meus sonhos, vou encontrar alguém nas mesmas condições que eu e juntos vamos começar uma vida em família”, entre outras. É importante nos consciencializar de que este tempo pode não chegar e/ou pode demorar a chegar e, enquanto isso, vamos nos afastando das pessoas, vamos dia a dia nos tornando desinteressantes de vida e repleto de metas e planilhas de como a vida deveria ser.

Destacamos algumas sensações psicológicas que não caminham sozinhas, conforme referimos estão ao lado de sintomas físicos, na tentativa de alertar e incentivar sua procura por ajuda profissional:

· Exaustão emocional;

· Despersonalização (demonstrável em episódios de insensibilidade diante de situações que provocam empatia);

· Fadiga extrema (cansaço físico, não recuperável com pausas e descanso ao corpo; cansaço mental, quando interfere na sua capacidade de concentração, de deixar de pensar sobre um determinado tema, etc.);

· Esgotamento físico, mental e emocional ocasionado por stress excessivo e prolongado;

· Endurecimento físico (tensões musculares) que se estende ao fechamento para relacionamentos e quaisquer atividades que envolvam outras pessoas;

· Tensão constante de que não pode perder oportunidades;

· Crenças de felicidade que a felicidade pode advir após sacrifícios ou de que se pode sentir prazer o tempo inteiro (estas polarizações não contribuem para construirmos compreensões reais de que viver não se resume a querer reproduzir uma ideia de felicidade descontextualizada de nossas escolhas e ações diárias);

· Sensação de estar a lutar contra mim mesmo;

· Crença de que tudo me é possível, distanciada da noção de responsabilidade;

· Desproporcionalidade que leva a pessoa a comparações e a se avaliar de forma inferior, o que também auxilia na depreciação e no comprometimento da autoestima;

· Sentir-se o tempo inteiro e por longos períodos ligado, em constante estado de alerta, mesmo quando não é necessário;

· Sensação de ser insubstituível.


Caso estas sensações estejam acompanhando você, interferindo em seu dia a dia, comprometendo seu modo de existir, e você sente que se reflete na sua visão de mundo restrita a uma perspetiva de que para você o pior cenário é sempre a primeira opção, procure ajuda. Você não precisa e não merece se sentir ameaçado pelo seu trabalho, por sua condição de vida, nem mesmo por escolhas já realizadas.

Há soluções possíveis para a falta de equilíbrio na vida pessoal e profissional. O sucesso na vida é mais do que sucesso profissional.

Invista em você.



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